domingo, 21 de fevereiro de 2010

Mais um golpe na África


Acompanhei com algum interesse o lance que se deu essa semana no Níger, país da África Ocidental que sofreu um golpe militar contra o presidente Mamadou Tandja nesta quinta-feira, com direito a tiroteio entre exército e a segurança do presidente nas proximidades do palácio do governo.. Contínuo, a Constituição foi suspensa. É uma história tristemente igual na África.


É difícil dar qualquer parecer sobre qualquer lado. Antes de qualquer análise, eu sempre penso que todo golpe militar é anti-democrático e absurdo. Desde antes do golpe no Brasil, a história é mestra em provar que onde entra gente de farda só dá merda. Militar serve pra empunhar armas, só. Militar no governo é sinal de desastre seja de esquerda ou de direita. Se bem que militar apoiar a esquerda é tão ilógico quanto o Papa defender a pena de morte. Por outro lado, o presidente Tandja tentou modificar a Constituição para concorrer a um terceiro mandado. Algo parecido com o que aconteceu em Honduras. A diferença é que Zelaya contava com o apoio maciço da população. Sobre seu colega nigerino, não se sabe. Segundo a France Presse, houve uma manifestação popular apoiando o golpe e protestando contra o governo de Tandja. Mas a primeira manifestação relatada em Honduras foi de apoio aos golpistas. A elite, claro. Gente que não deve ser ouvida.


Mas esse golpe no Níger não foge muito do que acontece na história africana. É preciso ter em mente sempre que, como continente soberano, a África tem uma história recentíssima. O Níger, por exemplo, se tornou independente da França em agosto de 1960. Ou seja, são quase 50 anos de nação nigerina de fato. Nesse tempo, os militares dão golpes e mais golpes e se conflitam com presidentes civis que tentam impor uma situação política mais estável, mas aquilo que se chama de democracia no Níger é algo frágil.


Geograficamente falando, o Níger é um país dominado, ao norte pelo deserto do Sahara e tem uma larga faixa do que se chama de sahel, que é a área de transição entre o deserto e a savana e a floresta. Tanto que a capital Niamei, principal centro econômico do país, fica ao sudoeste do país, nas proximidades do rio Níger, região mais fértil do país. Como se vê no mapa, o país não tem saída para o mar.


Tantas inconstâncias e desmandos na política do país transformaram o Níger num dos países mais pobres do mundo. Talvez o mais pobre. Seu IDH, medido entre 177 países, é o pior. A população do Níger é composta por tuaregues que vivem no deserto e maioria de população negra. Essa população vive ainda de uma agricultura arcaica que se preocupa com sua subsistência. Os poucos produtos agrícolas exportados são o algodão e a cebola. A indústria no país é insipiente. Mas no norte do país há grandes reservas de urânio. Justamente nos territórios tuaregues, contra quem a população do sul volta suas rivalidades. É difícil pensar que a situação se resolva de pronto no Níger. Que a coisa se resolva de forma pacífica e os militares apenas façam uma transição entre civis, o que se entendendo sobre a turma das casernas, que muda de nacionalidade, mas não de vício, é algo difícil de acreditar.

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