quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Enquanto isso, no Irã...


Hoje, além da libertação de Nelson Mandela, festeja-se – ou não – outra efeméride internacional. No Irã, há 31 anos, a Revolução Islâmica enxotava do poder o xá Reza Pahlevi, reformista e pró-ocidente, abrindo lugar para o aiatolá Ruhollah Khomeini, que liderou a Revolução do seu exílio, na França. A impopularidade dos xás, a crescente ocidentalização do Irã e a repressão provocada pelo governo central de Teerã foram combustível potente para que o aiatolá assumisse o poder e levasse o Irã, país de maioria muçulmana xiita, a vertente mais ortodoxa da religião, a um rígido governo em que tudo o que se ligasse ao Ocidente fosse tido, mais do que proibido, como pecaminoso. O resultado disso, claro, foram prisões em massa, condenações sumárias e muitos exilados.


O principal inimigo do Irã, e da Revolução, na visão de Khomeini eram os Estados Unidos. Em 1980, 52 funcionários da embaixada do país em Teerã foram seqüestrados, o que custou a reeleição do presidente Jimmy Cartes e empossou o republicano Ronald Reagan. O inimigo número um do regime dos aiatolás foi opositor ao lado do vizinho Iraque na guerra Irã-Iraque que transcorreu a década de 80 sem haver um vencedor. A repressão violenta contra opositores do regime perdurou durante todo o governo de Khomeini, que faleceu em 1989. Sucedido pelo aiatolá Ali Khamenei, considerado chefe de Estado, o Irã é governado por um presidente eleito que foi ganhando mais poderes com o andar dos anos


Durante a segunda metade dos anos 90, o filósofo Mohammad Khatami foi eleito presidente do Irã num momento mais “suave” da Revolução. Religioso moderado, Khatami adotou uma postura mais conciliadora na política internacional e mais tolerável na política interna permitindo maiores direitos às mulheres. Apoiado por uma juventude que nascia no mesmo ano da Revolução e clamava por mudanças, Khatami foi reeleito em 2001. Essa política mais mansa de Khatami, evidentemente, ia de encontro com o ideário dos chefes de Estado, ultraconservadores. Em sua sequencia, foi eleito Ahmed Ahmadinejad, reeleito ano passado sob protestos da oposição e desconfiança internacional.


Em pouco mais de trinta anos de Revolução e pouco mais de vinte da morte do seu principal líder, o Irã cresceu, a população rejuvenesceu, as idéias mudaram. País maciçamente jovem, o Irã entrou aos trancos e barrancos no mundo moderno. Com uma grossa parcela da população conectada à Internet, mesmo que fortemente monitorada e controlada, Muito do que Khatami permitiu continua valendo. O desafio para os anos vindouros é conciliar uma revolução válida, mas apodrecida e que procura manter apego à religião e às tradições com um mundo que se interliga e caminha a passos largos para uma situação laica e igualitária. Como organizar isso tudo num País de quase 70 milhões de habitantes e economia crescente numa região paupérrima é um desafio que Ahmadinejad e os aiatolás terão que resolver. E para isso será preciso muito mais que os discursos inflamados do presidente.

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