terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ah, aqueles tempos


Comecei a ler ontem o livro Noites Tropicais, do Nelson Motta, homem atuante nos intestinos da música brasileira. E, diferente de hoje, aqueles intestinos produziam odores de lavanda e ouro. O livro não é novo, tem pra lá de dez anos, mas sempre achei esse tipo de literatura algo meio maçante. Essa compilação de histórias do tipo “E aí, estávamos bebendo uma cerveja, Vinicius de Morais e eu...” me parece um tanto aborrecedora além de, na minha análise, ser um tapa na cara. De repente, o cara tá do lado de gente tipo Chico, Edu Lobo, João Gilberto, Tom... E aí, vejo anos depois o que temos. Dá vontade de chorar.


Ser adolescente nos anos 60 é uma das poucas coisas que invejo em meus pais. E percebo que eles não aproveitaram a coisa como poderiam. É algo utópico. Meus pais foram adolescentes aqui em Prudente, longe das praias cariocas onde tudo acontecia, a cidade que ainda não perdera o charme de capital que o status tinha sido transferido e longe do fervor cultural de São Paulo. Não havia, por mais que já se falasse naquela época em aldeia global, uma conexão plena como a de hoje.Fora as revoluções culturais, havia o descontentamento político, uma ditadura a ser combatida.


O livro mostra bem isso, mostra também como frentes musicais díspares se entrecruzavam provocando quase verdadeiras guerras inflamadas por simpatizantes, coisa que não vemos hoje, tudo pasteurizado, tudo querendo ser diferente, mas sendo enfadonhamente igual. Melhor exemplo disso eram os festivais, quando as torcidas se pegavam, se batiam em vaias. Quem ganhava, sempre era a música brasileira, que ganhava pérolas como um Ponteio, um Domingo no Parque, uma Roda Viva... Até quem perdia valia a pena. Além da música, cenas marcantes e históricas ficaram gravadas graças aos festivais, como Sergio Ricardo descontando em seu violão pelas vaias recebidas, como está no vídeo. Ou Caetano Veloso protestando contra os jurados.



Pois é... Os anos passaram, a mesma televisão que trazia o Fino e a Jovem Guarda hoje nem se preocupa em exigir qualidade em sua grade. Festivais? Os arremedos que inventaram quase quarenta anos depois deles foram patéticos e seus vencedores sumiram mais anônimos que apareceram. Os que, por acaso, mostraram ter talento não tinham aquele plus que a TV exige: Eram bons demais, esmerados demais, venciam a superficialidade. Não serviam para as tardes de domingo nem para o horário nobre.


O livro é bom sendo justamente aquilo que detesto nessa literatura, um alinhamento de histórias que mostram a evolução de uma música brasileira que cresceu com golpes externos e só fez melhorar. O que veio depois, castrado por vinte anos de brutalidade, tornou tudo vazio, raso... Talvez seja preciso um novo João Gilberto? Provavelmente... Mas se ele vier, quem lhe dará guarida? Onde ele irá se mostrar. Certamente, não será no Faustão.

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