Hoje é Quarta-Feira de Cinzas, o dia que sepulta o carnaval, inicia a Quaresma e, na prática, dá por começado o ano neste país. Uma coisa deve ser dita do carnaval: Apesar da tremenda alienação que ele traz, com desfiles mais profissionalizados e competitivos e menos autênticos e populares, à margem disso, fica a diversão, um restinho de fantasia de quem pode e quer se divertir, tirar os quatro dias para um descanso, uma fuga. E agora, que o carnaval se fina, não há melhor hino para o dia de hoje que a Marcha da Quarta Feira de Cinzas, obra prima de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. Composta antes de 1964, o fatídico ano do odioso regime militar, o Poetinha “pesca” que a alegria vai se acabar e é preciso ter fé e esperança em sua volta. Infelizmente, Vinicius não viveu pra ver e brincar outros carnavais. O Poetinha morreu em 1980, quando as luzes começavam a se acender para a volta do carnaval por mais que a macacada fardada tentasse apagá-las. Fica aí a bela letra e a bela música.
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz
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