terça-feira, 16 de junho de 2009

Um ditador incompetente

Não simpatizo muito com o presidente Mahmoud Ahmadinejad do Irã, vencedor das eleições neste fim de semana, cuja reeleição provocou protestos por todo o País. Sou frontalmente contrário a toda e qualquer regime político que envolva religião. Uma república islâmica, como foi o tempo em que os reinos contavam com as bênçãos e os pitacos da Igreja, é um absurdo. Se é verdade que há hoje no Irã muito mais liberdades civis do que havia quando o aiatolá Khomeini e sua revolução tocaram os xás há trinta anos atrás, não é menos verdadeiro que o país ainda enfrenta um certo atraso por conta do governo ainda estar nas mãos dos homens de turbante.

E Ahmadinejad, ainda que tenha um discurso duro contra os EUA e o Ocidente e luta pela soberania do Irã pra que não vire um quintal como é a Arábia Saudita, no que concordo, é simpático demais à batuta dos aiatolás. Claro, ele exagera quando afirma que o Holocausto não aconteceu. Aconteceu, sim, por mais que os Likuds da vida e a elite israelense atual merecessem umas boas férias em Auschwitz já que em nada difere o tratamento dispensado por eles aos palestinos.

Mas essa história de que houve fraude nas eleições iranianas parece descabida. O Irã, em trinta anos de Revolução Islâmica já teve líderes mais e menos tolerantes com modernidades e as transições aconteceram tranquilamente. Antes de Ahmadinejad, Kathami, um religioso mais light abrandou muitas das imposições e foi mais simpático aos jovens. Graças a Kathami, por exemplo, o Irã tem internet (ainda que restrita a muitos sites não-religiosos), telefonia celular além de mais liberdades. Estas liberdades foram mantidas por Ahmadinejad. Claro que há muita coisa por fazer ainda no Irã. Mas é preciso, sempre se lembrar que o país tem população de maioria xiita, a vertente mais rígida e conservadora do Islã, e isso precisa ser respeitado.

Muito se diz que o Irã é uma ditadura, mas há certas coisas a se perguntar. Primeiro: Que ditador coloca sua imponência despótica à prova do voto, ao principal arma daquilo que se convencionou chamar de democracia? Segundo, que ditador permite que cem mil pessoas se juntem pra protestar por dois, três dias seguidos? Se Ahmadinejad é um ditador, é um daqueles bem incompetentes porque não tem força tanto que os protestos tiveram força e até o clérigo, que é quem realmente dá as cartas no País, pediu que os votos sejam recontados. Uma ditadura que, mais que uma eleição, permite recontagem de votos? Eis uma tirania incompetente.

Não que Mir Hossein Mousavi, principal opositor e candidato reformista, seja um mau candidato. Há quem o acuse de ser pró-EUA, o que seria um absurdo. Talvez, ele até provocasse algumas rupturas necessárias e maiores liberdades frente aos provectos religiosos. Mas seu principal objetivo, por ora, ele conseguiu: A recontagem. Vejamos se a força dos protestantes será a mesma das urnas. Do contrário, que Ahmadinejad, mesmo com seus excessos, faça um bom segundo mandato, como bem quer o povo iraniano.


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