quarta-feira, 31 de março de 2010

Acabou... mas de forma tradicional

Dourado ganhou o BBB. Se alguém tinha dúvida disso ou era ingênuo demais acreditando mesmo que quem decide os rumos do programa é o telespectador, que, sim, mete sua colher no negócio, mas sem poder de decidir, ou é muito inconseqüente. De qualquer forma, a vitória desse troglodita só fez me dar mais razão e explica, de novo, porque eu não assisto esse programa. Pelo simples motivo que, para ganhar o BBB não precisa ter talento, basta ser minimamente idiota, bancar o falso ingênuo e/ou ser extremamente desonesto.


Acompanhei os três primeiros programas apenas. No primeiro, ganha o tal de Kleber, um sujeito feito de músculos no corpo e vento na cabeça, de alguma simpatia, mas sem nada a oferecer. No segundo, ganha um cowboy, o que dispensa qualquer explicação maior sobre inteligência, talento e cultura. No terceiro, ganha um playboyzinho encrenqueiro, de ficha corrida na polícia por brigas. Ou seja, idoneidade e caráter são coisas totalmente inúteis se se quer ganhar esse programa. Foi quando deixei de assistir.


O que veio depois não mudou muito. Noutras edições ganharam duas pessoas simples, do povo, gente de verdade, mas aí vem a ordem de cima. Gente “não televisionável” não participa mais. Noutra, quando ganhou um professor universitário, com alguma cultura, porém homossexual, houve tremenda reclamação. Ele usou do fato de ser gay pra ganhar, ganhou graças a sua “categoria”, usou o programa pra levantar bandeiras. Não houve a aclamação de outrora.


Esses críticos devem ter tido um prazer quase orgástico ontem à noite quando seu herói ganhou um milhão e meio. O tal Dourado é tudo o que eles sonham de uma pessoa e esperam de um cidadão. Anacrônico, machista, homofóbico, descerebrado, ardiloso, mau caráter, resolve tudo na porrada e, pior, simpático ao nazismo. Mas a suástica dele remete ao budismo. Tá bom...


Houve quem relegasse isso tudo sublinhando sua honestidade. “Ele é tudo isso, mas ele não esconde de ninguém que o é”. Perfeito. Hitler também nunca escondeu que odiava os judeus. Coloquemos um de seus seguidores no poder. Um homem totalmente mal intencionado e desumano, mas verdadeiro e sincero. Oras... Sinceridade nesse caso é pra ser combatida. Ele é tudo isso? Então será o tipo de pessoa que combateremos. Não queremos outros Dourados no mundo. Ou não deveríamos querer.


Infelizmente, a Globo, essa emissora que preza pela diversidade e combate o preconceito, escolheu pra vencedor um brutamontes que queria bater numa mulher e odeia homossexuais. É quase a mesma coisa. Se houve votação pró, foi porque ela induziu a isso. Mas... Esse é o país em que vivemos. Dourados ficam milionários da noite pro dia, Anas Marias Bragas e Pedros Biais são considerados intelectuais e formadores de opinião, Ivetes são ídolas da música, funks são letras e Sarneys são eleitos. Querer evoluir para um lugar, realmente, sem preconceitos e simpático à diversidade é fazer papel de otário. Que exemplos damos e que exemplos temos. E depois todos reclamam. Mas ninguém olha pra mudar o próprio umbigo. Triste.



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