sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Uma Rainha no campo do rei

A jogadora Marta foi apresentada ontem como novo reforço do time feminino do Santos. Isso equivale, mais ou menos, à contratação do Ronaldo pelo Corinthians. Com uma diferença: O Santos acabou de contratar o Ronaldo dos tempos de Barcelona, pré-lesões e no auge de sua forma. Mas isso não diz muita coisa porque, infelizmente, no Brasil, o futebol feminino não tem público, divulgação nem apoio.


Temos a segunda melhor seleção de futebol feminino do mundo, a melhor jogadora (que é a Marta) e uma geração boa a ser lapidada. Isso tudo sem que os times invistam seriamente na versão feminina do esporte. Ou seja, nossas grandes jogadoras (e são muitas) ou conseguem uma vaga pra jogar fora do país (como a própria Marta, que fez sua carreira na Suécia e estava nos EUA, pra onde voltará ao fim do contrato com o Santos) ou jogam em clubes menores, associações ou, mesmo, nas equipes principais do nosso futebol, mas de forma semi-amadora em torneios pouco assistidos e com mais atenção de mídias alternativas às quais o grosso do público ou não tem acesso ou não quer ter.


O Santos ainda conta com uma equipe feminina mais forte. As ditas “Sereias da Vila” vão muito bem no campeonato paulista e brasileiro e disputará a versão da Copa Libertadores que será criada para as mulheres. E para isso, contratou Marta. Para o futebol brasileiro, é um chamariz e tanto. Desde 2004, quando foram vice-campeãs olímpicas, Marta e suas companheiras tiveram um apoio discreto da CBF, o que é melhor que nada, mas é quase isso. Por outro lado, com alguma divulgação, a dos torneios que conseguiram ir bem, elas incentivam algumas meninas a seguir os mesmos passos.


O problema é o machismo brasileiro. A começar por uma ilustrativa abordagem de João Saldanha sobre o tema: “O sujeito tem um filho, que leva a namorada para conhecê-lo. O pai faz a pergunta clássica: ´Você trabalha ou estuda?’ ‘Trabalho’, ela responde. ‘Em quê?’, quer saber o velho. ‘Sou zagueira do Bangu. Pega mal, vocês não acham?” Isso se deu nos anos 60 e 70. Saldanha não viveu pra ver Marta e companhia disputarem em pé de igualdade três títulos, mas mostra que a mentalidade do brasileiro desde então não mudou. Mulher serve pra jogar vôlei em uniformes que lhes torneiam, até pra atletismo, talvez basquete. Futebol não.


Gosto muito de assistir as partidas de futebol feminino, mas sei que sou minoria. Infelizmente, as partidas só são transmitidas para o sinal fechado. E ainda assim poucas. Que a vinda de Marta, agora mais próxima do seu público e de suas fãs, incentive a mídia a jogar mais luz no esporte. E, clubisticamente falando: Tentem colocá-la no lugar do Kleber Pereira. Garanto que o Santos melhora seu ataque.



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