quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Guerra do deserto



Egito e Argélia jogam hoje, de novo, a terceira vez em menos de três meses num clássico norte-africano que extrapolou de longe os limites das quatro linhas. O jogo levou a conflitos e perseguições de nativos no outro país, sobretudo na Argélia. Para o jogo de hoje, que vale uma vaga na final da Copa Africana de Nações, o clima está pra lá de efervescente. Egito e Argélia mandaram torcedores para Angola, que por sua vez, recusou a entrada deles no país. Jogadores falam em guerra. Ou seja, tudo leva a crer que a partida deverá ser meticulosamente coordenada. Dentro de campo e fora,


Culturalmente, os dois países se aproximam em certos pontos e distam em outros. Ambos são países de língua árabe e maioria muçulmana. Ambos são países relativamente liberais dentro do rígido mundo árabe. A diferença entre eles vem, primeiro, na colonização. O Egito foi um dos primeiros países africanos a se tornar independente do Reino Unido. A Argélia conseguiu a sua muito mais tarde, em 1962 de forma sangrenta contra a França. Ainda há um ressentimento e uma aversão dos argelinos contra sua ex-metrópole. O que não impede do francês ser o segundo idioma do País. Mas a história mostra que tanto um quanto outro são países fortemente belicosos e de fibra nacionalista.


Quanto ao futebol, é flagrante a superioridade egípcia. O time é o atual campeão continental de seleções e vem sendo a melhor equipe da competição este ano em Angola. No entanto (e por isso, principalmente), essa superioridade não foi o suficiente para que o time dos faraós batesse os argelinos na disputa por uma vaga na Copa do Mundo. Em jogos tensos nas Eliminatórias, a Argélia bateu o Egito em casa por 3-1 em junho do ano passado. Com o Egito se complicando noutras partidas, os faraós precisavam vencer em casa por uma diferença de dois gols e forçar o jogo desempate. Em novembro, isso aconteceu. E quatro dias depois, no tal jogo desempate, disputado no Sudão, a Argélia fechou a fatura ganhando por 1-0 numa partida quente que desatou em conflitos nos dois países.


Não é normal que o futebol seja pano de fundo para conflitos ou tremores diplomáticos. A história mais célebre envolvendo o esporte se deu em 1969 quando Honduras e El Salvador pegaram em armas após uma série de três partidas entre os dois países, que já não vinham em boas relações. Que a guerra que os jogadores aludem se restrinja ao campo e que o espírito esportivo reine após o jogo. De uma forma ou de outra, a partida promete muitas emoções. Que fique só nos noventa minutos.

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