terça-feira, 5 de maio de 2009

Deixa o homem visitar


A visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil tem preocupado analistas internacionais. De fato, o homem que reduziu o holocausto a um mito e vem desafiando os Estados Unidos causa mais polêmicas e revolta ao segmento que detém o poder no mundo, mas é preciso reconhecer algumas coisas. Uma delas é que o Irã é um país que tem um potencial econômico relevante numa região importante. Dos países árabes, o Irã é um dos mais industrializados e, para o bem e para o mal, exerce influencia sobre grossa fatia da população muçulmana na região. O segmento xiita, mais radical na sua interpretação do Alcorão, é maioria no Irã e soma notável porcentagem no Iraque e em outros países. A Ahmadinejad atribui-se os nomes “louco”, “inconseqüente”, “bravateiro” dentre outros. Criticam o Irã por criar armas atômicas, o que, de fato, não é algo aceitável, mas os mesmos que criticam o governo iraniano passam batidos pelo maior arsenal atômico do mundo de posse dos Estados Unidos.

Esquecem-se os mesmos de duas coisas. A primeira, o Irã é um país soberano como qualquer outro e se tem recursos e tecnologia para desenvolver programas nucleares deve fazê-lo. Se fabrica armas e vai usá-las ou não contra Israel, contra o Iraque, contra a Europa, contra quem for é outra história. Insano por insano, George Bush era tanto quanto Ahmadinejad e ninguém falava nada. Claro, os EUA são uma democracia de civilizados enquanto o Irã é uma ditadura de bárbaros. Mas em momento algum, Ahmadinejad falou que iria invadir Israel. Apenas disse que o Holocausto é um mito. Bobagem, claro, mas menor do que as ameaças do governo Bush.

Mas Bush se foi e Ahmadinejad pode ir também. Este ano tem eleição no país dos aiatolás e a população, jovem em sua maioria, nascida junto com a Revolução islâmica, mas cidadã após a morte de Khomeini, já deu mostras que a repressão severa dos homens de turbante não é tão desejada ao eleger Khatami, um clérigo mais light. Ahmadinejad o sucedeu com um discurso mais conservador, mas não é incontestável.

Então, enquanto presidente, Ahmadinejad vem ao Brasil. A visita envolve muito o campo comercial uma vez que o Irã é um mercado a ser explorado e, também, o diplomático. O Brasil já se manifestou contra o discurso racista e anti-semita de Ahmadinejad. Certamente, a ele não será dada oportunidade pra repisar o tema. E nem deveria. Por mais tirano que seja o governo de Israel, o Holocausto é um fato e deve ser sempre lembrado, nunca minimizado.

Enfim, que Ahmadinejad receba boa estada no País e que os grupos que o criticam protestem de forma inteligente sem se deixar levar por paixonites e rancores descabidos. Para o Brasil, o Irã é um parceiro valioso e merece respeito.


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