quinta-feira, 13 de maio de 2010

Áurea, pero no mucho

Há 122 anos, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que sepultava definitivamente o escravismo no Brasil. Na verdade, ele já estava com os dias contados já que leis anteriores já salvavam do hediondo costume idosos e recém nascidos bem como o tráfico negreiro. Claro que isso não foi espontâneo nem nascido aqui. É sabido que no século XIX, a Inglaterra, com produtos industrializados precisando ser escoados e vendidos, já não simpatizava com escravos. Escravo não recebe salário nem consome então, como manda-chuva da política internacional da época, a ilha mandou acabar com essa pinga de escravos, de tráfego negreiro de gente apanhando nos troncos. O Brasil, eternamente subserviente aos desmandos de fora, acatou e no dia 13 de maio, a Princesa Isabel assinou a dita lei. Esqueceu-se, no entanto, Sua Alteza, de dar aos escravos algo mais que a liberdade: Dignidade. De repente, os escravos estavam livres e desempregados, despossuídos e desamparados. Trabalho nas fazendas só para os vindouros imigrantes europeus, mais qualificados que os negros, que nunca tiveram chance de progredir, só tiveram chicote. Em momento algum, nem a moribunda realeza nem a nascente República se preocuparam em encaixar os negros libertos numa sociedade predominantemente branca. O que sobrou a eles foi ficar nas cidades em habitações afastadas dos centros vivendo sempre à margem de uma sociedade que, por sua vez, foi ensinada para isso, sempre viu os negros como seres inferiores.


Nesses 122 anos, os negros lutaram e conseguiram muitos direitos e vêm conquistando muitas vitórias, sobretudo contra o preconceito. Ainda há muito para ser feito. Nesse aspecto, exigências como cotas raciais e outras tantas vem sendo discutidas. É sabido que há uma certa dívida moral da sociedade com os negros, mas bem mais sabido é que, mesmo com toda a consciência que se incuta nessa mesma sociedade e em elementos mais retrógrados dela, essa dívida não poderá – muito menos será – paga de uma vez só nem a curto prazo. Cotas raciais são um paliativo, jamais uma solução. Igualdade se conquista em passos e é preciso vencer obstáculos com suor. Igualdade dada por decretos se torna tão inválida e inócua como a Liberdade assinada pela Princesa Isabel. Os negros serão legalmente iguais como se tornaram igualmente livres, mas a prática será completamente diferente e cruel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário