Pessoa errada no lugar errado

De verdade, não entendi, ainda, como uma mulher como a Fernanda Young posou para a Playboy. Pareceu uma grande piada de ambos os lados. Da Playboy pareceu uma apelação, tipo “Na falta de coisa melhor, vai você mesma” e dela uma gozação contra a revista, se tomarmos a posição dela de querer que se fotografasse uma mulher com cérebro. A coisa terminou com cara de alguém usando e sendo usado ao mesmo tempo. Fernanda não é mulher pra Playboy. Com quase 40 anos, não tem um corpo atraente (sua inteligência, expressa em seus textos, pauta-se mais pela polêmica, mas tem conteúdo, discorde-se dela ou não), é cheia de tatuagens que mancham a imagem idealizada de uma pin-up, tem piercings nos seios, o que – para este que vos escreve – é algo muito feio, enfim, não “casa” com o que se espera de uma capa da Playboy.

As fotos são bonitas, algumas desnecessárias e pautam mais pelo lado artístico do que pelo sensual, o que, também foge do que a revista propõe (ou ao menos, parece) que é a coisa mais sensual alcançando, voluntaria ou involuntariamente, para o explícito, o machista, o coisificado. O ensaio é aberto por um texto interessante da lavra de sua modelo e se encerra com ela escrevendo uma frase com batom. Parece, no final das contas, algo inteligente ou pedante demais para um público que é composto por homens maduros de classe média que adoram deixar escapar seu lado macho dominante nessas páginas e por adolescentes semipúberes que encontram na revista suas primeiras namoradas e lhes dedica homenagens carregada de testosterona. Fernanda Young não é mulher para isso nem a Playboy é revista para Fernanda Young.