quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Novo Partido

Nessa semana que passou, a Casa Branca, tomou uma atitude inovadora ao dispensar tratamento de partido político de oposição a Fox News, do megamilionário Rupert Murdoch, ao invés de tratá-lo como mídia. A decisão foi condenada por diversos meios de comunicação tanto lá quanto aqui. Os paladinos da liberdade criticaram a decisão alegando que ela insulta o princípio basilar da imprensa, a de informar com liberdade.


Isso não quer dizer que Obama passará a perseguir a Fox, apenas não a verá como um órgão isento, o que de verdade, não é. Seus repórteres serão tratados com respeito profissional pela assessoria de imprensa da Casa Branca. Apenas seus questionamentos serão considerados de cunho político ao invés de informativo. Dessa forma, a Fox, assim como o Partido Republicano, oposição ao democrata Obama, não terá respondida certas questões capciosas.


Não é uma idéia negativa uma vez que falar de imprensa isenta e neutra tanto no Norte como aqui é mentira. Neutralidade não existe. A Fox não é neutra. Murdoch é um dos maiores fazedores de dinheiro desse planeta. E dos mais inescrupulosos não medindo conseqüências para chegar a isso. Qual a diferença entre a Fox e a Rede Globo? Nenhuma.


Ou pode se dizer que é isento um meio de comunicação que edita um debate entre candidatos a presidência da república, o primeiro após anos de ditadura militar? Ou seria isento, um meio que não fez qualquer menção sobre um movimento abertamente oposto a esse regime? Não é. A Globo desde sempre deixou clara sua posição conservadora e inclinada à direita seja de forma mais explícita, em suas atitudes diretamente interventoras no quadro político nacional, seja na sua dramaturgia em que o lado bom está sempre no asfalto, nos condomínios, na ostentação enquanto movimentos sociais são pintados como elementos de distúrbio. O exemplo usado foi a Globo, mas pode-se substituir por Grupo Folha, Editora Abril, Rede Bandeirantes ou qualquer um a escolha do leitor.


Isso se explica com um único fator. Tanto os conglomerados de mídia nacionais quanto a Fox nos EUA tem programações comerciais visando lucro. Qualquer indício político que venha de encontro a isso é nocivo a ele e deve ser combatido. É visível, quase palpável, a simpatia que a Fox tem pelos Republicanos nos EUA. Da mesma forma, salta aos olhos como nossa mídia se agrada aos governos que pendem ao neoliberalismo. Procure na Veja uma palavra agradável, por exemplo, a qualquer movimento social que vise o fim das desigualdades sociais. Para eles, sem-terra é bandido, os governos escolhidos por voto popular na América Latina são ditaduras e a violência imposta pelo governo Bush no Iraque e no Afeganistão foram um mal para o bem da democracia. Não há o mesmo peso. Nunca houve. O mesmo se dá no Jornal Nacional. Criticava-se o mensalão frisando a PT, mas não fazem a menor questão de lembrar, quando falam das falcatruas da Yeda Crusius no Rio Grande do Sul, que ela é do PSDB. Elogiam com loas a CPMI que averiguará o envio de dinheiro público ao MST, mas não se fala uma vírgula sobre a lisura da propriedade das terras da bancada ruralista, que propôs isso e é a maior interessada na questão. Os mocinhos e os bandidos são bem definidos. Fica fácil distorcer e vender essa idéia a uma camada que repete como verdades incontestáveis as mentiras. No fim das contas, a mídia faz política melhor que os próprios políticos.


E é pra combater um pouco disso numa nação branca e cegamente cristão que um presidente negro e de origem árabe toma a decisão de tratar politicamente algo que, aparentemente, é meramente informativo. Os lucros do Sr. Murdoch não podem sofrer abalos bem como a posição soberana dos clãs Marinho, Civita e Farias no Brasil, aqueles que o jornalista Paulo Henrique Amorim chama sabiamente de PIG, Partido da Imprensa Golpista (mesmo ele fazendo parte dele, que inclui a sua Record). E como partido deveria receber tal tratamento. Obama está certo. É um precedente, no mínimo, interessante sobre o qual uma discussão séria afastada dos coronéis da mídia não viria mal.

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